O mito do trabalho prazeroso

Seja na clínica psicanalítica ou em trabalhos de coaching de carreira, ouvimos todo o tempo: “Eu quero trabalhar numa área em que eu goste”, “Eu busco um trabalho que seja prazeroso”. “Nenhum dinheiro do mundo supera aquilo que te dá prazer” 
Os mais jovens buscam um trabalho numa área que gostem, mas muitas vezes sem saber qual; já muitos profissionais maduros buscam uma atividade prazerosa para depois da aposentadoria. Outros, em plena escalada em suas carreiras reclamam das pressões e frustrações no trabalho e afirmam que não têm realização pessoal ou profissional, permanecendo nos seus trabalhos apenas pelos benefícios recebidos: um empregador de reputação, um bom salário, benefícios complementares, empregabilidade, status, experiências e perspectivas futuras.

Mas, por que afinal sofremos tanto pelo trabalho?

O exercício de qualquer atividade ou profissão depara-se com as pressões do ambiente, relações interpessoais (chefes, colegas, subordinados, equipes), políticas internas e politicagens, cultura e valores organizacionais, sistemas hierárquicos, pacote financeiro, benefícios e, do lado do profissional, sua história de vida, motivações, perfil comportamental, personalidade e caráter. Todos estes fatores interagindo em um determinado cenário sócio-político-econômico, resultam neste emaranhado que denominamos genericamente “insatisfação com o trabalho”.
Por outro lado, ninguém discute a importância do trabalho para o desenvolvimento do ser humano. Hesíodo, considerado depois de Homero o poeta grego mais importante, em seu poema “Os trabalhos e os Dias” discorre sobre o valor do trabalho: “O heroísmo não se manifesta só nas lutas em campo aberto, entre os cavaleiros nobres e os seus adversários. Também a luta silenciosa e tenaz dos trabalhadores com a terra dura e como os elementos tem seu heroísmo e exige disciplina, qualidades de valor eterno para a formação do Homem.”

Como resolver então esse impasse e conseguir tirar mais satisfação no trabalho?

 
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Não há dúvida de que quando gostamos do que fazemos estamos dispostos aplicar todas a nossa energia, e que seria muito bom que todos pudéssemos trabalhar de acordo com nossas aspirações, e sendo valorizados por isso. Como então fazer isso?
Inicialmente, é preciso refletir sobre o que exatamente não lhe agrada: a área de atuação, as tarefas em si ou outras coisas tais como cultura da empresa, postura do chefe, pacote financeiro, valores corporativos, longas horas, etc? Se você não sabe para onde quer ir, qualquer direção pode ser uma opção…
Determinados os motivos da insatisfação, é hora de explorar suas capacidades desenvolvidas ao longo da vida profissional. Conhecendo nossas habilidades, talentos, aptidões e potenciais podemos eleger o melhor caminho de aplicá-las, seja em uma outra carreira, empreendendo em um projeto pessoal, num trabalho filantrópico público ou privado, etc.
Além disso, é importante ser realista e saber se aquilo que temos e que estamos dispostos a oferecer é de interesse do outro, seja um cliente, uma corporação, o mercado, etc.
Este assessement pode ser feito sozinho ou com a ajuda de um profissional, que com o auxílio de ferramentas de coaching podem ajudá-lo na avaliação do seu comportamento, da situação atual e do ambiente de trabalho, dos motivadores de carreira, entre outras.
Voltamos a Hesíodo: “O trabalho é celebrado como o único caminho, ainda que difícil, para alavancar a arete (virtude). O conceito abarca simultaneamente a habilidade pessoal e o que dela deriva – bem estar, êxito, consideração…O Homem deve ganhar o pão com o suor do seu rosto. Mas isto não é uma maldição, é uma benção. É este o preço da arete (virtude). … A justiça e o trabalho são os pilares em que ela se assenta.” (em Jaeger, Wagner – Paidéia A formação do Homem Grego, Martins Fontes, 2001).
O trabalho pode, sim, ser prazeroso e podemos encontrar satisfação pessoal em nossas atividades remuneradas; entretanto, é importante reforçar que este trabalho prazeroso, idealizado e embalado à sua espera não existe, ele precisa ser construído.

5 Comments

  • Edgard Pitta de Almeida

    19 de março de 2013 - 17:26

    A questão é "descobrir" um trabalho prazeroso ou "construir" um trabalho prazeroso?

  • Tatiana Corazza

    5 de julho de 2013 - 01:19

    Acredito que a questão antes de mais nada é se descobrir!

  • Fuzileiros Santos

    4 de agosto de 2013 - 14:59

    bom dia,nos conhecemos no treino .me add

  • Maurício Pereira da Silva

    13 de janeiro de 2015 - 08:58

    Meu caso é complicado trabalho em uma Empresa de Engenharia sou projetista Estrutural construímos usinas hidrelétricas sou bem remunerado e não gosto do meu serviço, começarei uma faculdade em outra função e sei que depois de formado minha remuneração não chegará a um terço do meu salário, mas, estou convicto e isso que eu irei fazer.

    • Edmar Campos

      20 de julho de 2015 - 14:40

      Cuidado! Você pode estar trocando uma insatisfação conhecida por outra desconhecida e de maiores proporções. Vale refletir sobre a origem de sua insatisfação e traçar plano para construir a satisfação. Se preciso procure ajuda de coach. Boa sorte!

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